VIOLÕES DA ESPANHA
Fabio Zanon mostra a música espanhola do século XXA Espanha tem uma das mais ricas e interessantes trajetórias musicais do século XX. Compositores como Albeniz, Falla e Granados fizeram com que a cor e a riqueza da música espanhola fosse reconhecida em todo o planeta. Nestes meses de janeiro e fevereiro, enquanto o programa Supertônica está em férias, seu horário será ocupado por Violão, programa no qual o violonista Fabio Zanon enfoca as diversas vertentes da produção musical espanhola por meio de seu instrumento.
"A sonoridade do violão está muito associada à música espanhola", diz. "Não me lembro de nenhum compositor espanhol de primeira linha que não tenha escrito para o violão - é meio um questão de honra para eles", afirma o instrumentista.
Zanon traça uma linha do tempo, que começa nas primeiras duas décadas do século, partindo do grande precursor que foi Francisco Tárrega (1852-1909) e abordando alguns dos mais ilustres violonistas-compositores desta época, como Miguel Llobet (1878-1938) e Andrés Segovia (1893-1987). "Segovia não se julgava muito competente como compositor, mas tem uma produção significativa".
Para além dos nomes mais conhecidos, é a chance de resgatar autores menos ouvidos, como Angel Barrios (1882-1964), amigo de Garcia Lorca e Falla, cuja produção está no limiar entre a música de salão e o flamenco; ou ainda Antonio José (1902-1936), outro amigo do poeta Federico Garcia Lorca que foi fuzilado pelos franquistas durante a Guerra Civil Espanhola, e cuja sonata para
violão só mereceu publicação em 1990.
Zanon deve abrir espaço ainda para compositores atuais, como Roberto Gerhard (1896-1970), Luis de Pablo e Cristobal Halffter (nascidos ambos em 1930), além de falar do rico universo das transcrições.
"Para provar que o violão podia sustentar um discurso musical, o Tarrega começou a transcrever obras tocadas por outros instrumentos. E fez umas 200 transcrições, incluindo compositores como Chopin, Schumann e Beethoven", conta o violonista.
Tarrega também acabou transcrevendo para o violão obras para piano de compositores espanhóis, como Albeniz. E tais transcrições, de peças como "Astúrias" e "Sevilha", acabaram ficando mais conhecidas do que seus originais pianísticos. "O próprio Albeniz conheceu as transcrições e, ao que parece, gostou mais delas do que dos originais para piano".
Fabio Zanon discorre sobre o violão com a autoridade de um dos intérpretes mais respeitados do instrumento na atualidade. Em 1996, venceu dois dos principais concursos internacionais para violão do planeta, o Francisco Tarrega, na Espanha, e o GFA, nos EUA. No ano seguinte, foi laureado com o Prêmio Santista, e, no ano passado, agraciado com o Prêmio
Carlos Gomes.
Dono de uma respeitada carreira fonográfica, apresentou, em 2003, na Cultura FM, a série de 26 programas A Arte do Violão. Zanon escreve os roteiros de suas participações no rádio, e prefere ser breve nos comentários. "As pessoas ligam o rádio para ouvir música. Acho que um programa de uma hora não deve ter mais do que dez minutos de fala", preconiza.
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Trecho do Guia do Ouvinte da Rádio CulturaFM, São Paulo, Janeiro/Fevereiro 2006.
http://www.tvcultura.com.br/radiofm/radiofm0601/guia-violao-fabiozanon.htm